terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Quem quer viver para sempre? (Who wants to live forever?)

Você gostaria de viver para sempre? Só você? Como um highlander? Sem os seus, o seu mundo, o seu pertencimento? Para fazer o quê? Mesmo vivendo como velho (ou na melhor idade!), lambendo os beirais da vida?

Não é fácil decidir. Quem quer o fim? Seria esse o sentimento que apadrinha a moda por mágicos conselhos e imposições ao nosso caminhar? Uma vida nos modelos dos atuais vampiros a que assistimos, também, nos cinemas?

É nessa angústia geral, nesse desaconchego com o viver que alguns “experts” penetram nas nossas entranhas a convencer-nos a fazer de tudo por uma “vida saudável”. Eloquentes doutores de variadas profissões. Centros assistenciais de excelência incríveis. E fazem tudo isso a preços módicos, pois o que vale mais que a vida? Saúde não tem preço. A vida vivida não importa, importa viver. Não há limites, o excesso é o frisson. No ilimitado está o êxtase.

As prescrições se alastram em propulsão: coma isso, agora não coma mais; durma bem; café faz mal, agora faz bem; verduras e legumes à vontade, mas orgânicos; você é responsável pela sua saúde. Regras arregimentadas entre a apresentação solene de obviedades e ensinamentos construídos na base da falácia de afirmar o consequente. Uma “ciência” sem fundamento, construída intencionalmente sem o controle de uma infinidade de variáveis de confundimento. Um novo modo de vida moral-fordista se alastra na esteira de novos alquimistas e suas mercadorias com ares científicos.

Na visão do escritor João Ubaldo Ribeiro: o totalitarismo do Estado já mostrou sua carantonha algumas vezes na História e talvez se tenha pensado que ele tenha ido embora. Entretanto, cada vez mais se tenta regular a conduta do cidadão, mesmo em áreas imemorialmente reservadas a arbítrio e atos da sua exclusiva alçada. E é "científico" porque costuma apoiar-se nas fugazes verdades supostamente inatacáveis da ciência, que, como sabemos, mudam praticamente todo dia. Subitamente, há um afã por proteger-nos de nós mesmos e, muito pior, impor-nos "verdades"...

Não considero que a explicação para o que ele aguda e ironicamente revela seja o clichê de que isso se trataria de um totalitarismo do Estado que pretenda assumir o controle dos indivíduos. Ao contrário, essa tentativa de regulação está estruturada de forma ampla nas relações sociais, no totalitarismo dos interesses do mercado, da vida social reificada pelos valores de troca em detrimento e desprezo ao seu benefício real. Falar que o problema é de um totalitarismo do público ou do científico é reduzir a esfera pública a um confronto estéril com a esfera privada individualista na forma do próprio metabolismo capitalista. A vida não perdoa esta cisão entre o singular e o universal presente nos indivíduos, um devaneio inocente. Assim, também não há o tempo para o nós.

O presente é tão grande, não nos afastemos. Recebe com simplicidade este presente do acaso; em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte, diz o poeta. Não se vive sem consumir a vida. Ela é energia que flui. Então, vamos viver a finitude com sabedoria, para que na hora da nossa despedida, possamos dizer um adeus apaixonado aos que ficam, e alegre pelo que fizemos.
Paulo de Tarso Puccini
31/01/2012

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